Ah, como somos envolvidos pela oferta e publicidade de produtos e serviços no nosso dia a dia... Realmente é fantástico todo o conjunto de manobras que são articuladas para a divulgação do fogão, do pente, do leite, do batom, da ração do cachorro, que vão nos envolvendo de tal maneira que, sem sairmos de casa, conseguimos comprar tranquilamente - e sim, bem confortavelmente!
Vender é a palavra de ordem, mas como realizar a ação desse verbo tão caro em tempos tão difíceis, economicamente falando (em outros aspectos também, mas vamos ser seletos)? E, mais uma vez, a criatividade impera: somos bombardeados por publicidades que vêm nos abraçando, sensibilizando-se com nossas dores, sentimentos e, pronto, compramos - é a magia de explorar, em nós consumidores, nossos órgãos sensoriais.
Sim, a publicidade brinca, estrategicamente, por meio das técnicas de venda, com nossos órgãos do sentido – o olfato, o tato, o paladar, a audição e a visão. No entanto, virtualmente, não conseguimos sentir o cheiro da fragrância, da essência; tampouco tocamos as toalhas de banho para sentir a maciez e comparar A com B, também não levamos à nossa boca os sabores das baunilhas, dos chocolates, das massas... contudo, não ficamos sem comprar. Eles, os “donos da publicidade”, exploram com sutileza de mestres nossos ouvidos e olhos.
Esses dois receptores, tão explorados, nos tornam reféns de nós mesmos; somos entregues à tentação: ora, não é à toa que já se dizia “o que os olhos não veem, o coração não deseja”! Isso mesmo: vemos e desejamos, pronto!
Ver e ouvir sempre caminharam juntos - agora, inseparáveis. Em tempos de distanciamento social, há uma aposta muito intensa nos jingles, associados às imagens que procuram traduzir/interpretar nossos sentimentos naquele instante.
Nossos olhos filtram aquilo que nos chama a atenção; a visão é extremamente atraída pelas cores, formas e letras que saltam ao nosso encontro por meio dos produtos, online mesmo. Assim, sem ter como explorar as demais zonas sensoriais, um investimento grandioso é feito sobre a imagem publicitária: elas parecem falar, exalar aromas, se tornam palpáveis... sim, parece que nos transportam para lugares fantásticos, que, com um clique, chegamos a eles (claro, é tão real, que usamos até o cartão de crédito).
Deixamos de ir às lojas físicas com tanta frequência; o tocar, o provar e o sentir ficaram também em isolamento conosco – temos, às vezes, a sensação de termos voltado no tempo, na época dos armazéns onde o vendeiro dos “secos e molhados” nos entregava, por detrás do balcão, nosso pedidos anotados num pedaço de papel: o vendedor de um lado, com suas mercadorias intocáveis, e nós, separados pelo aparato de madeira, ajudando-o a decifrar o que queríamos.
Penso que esse saudosismo não nos cai muito bem porque o associamos a um momento crítico mundial, mas vamos superar e voltaremos a apertar os bibelôs das lojas, a abrir os perfumes, a querer a presença de uma promotora de vendas de guloseimas nos mercados e vamos ignorar aquelas mensagens “quebrou, pagou”; “sorria, você está sendo filmado”; “proibido cheirar” – não por irresponsabilidade, mas por estarem reprimidos em nós nossos desejos sensoriais, presos como nós em quarentena!
Prof.ª Me. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente da Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.