Segundo dados da última pesquisa de endividamento e inadimplência do consumidor (PEIC) realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em agosto deste ano 64,8% das famílias estavam endividadas. Isso representa um aumento de 4,1% em relação ao mesmo período do ano passado e o maior índice dos últimos 6 anos. Do total de dívidas adquiridas, 79,3% se referem à inadimplência com o cartão de crédito e 16%, aos famosos e facilitados carnês. Diante desses significativos números, é importante refletir sobre suas causas, como a falta de educação financeira contribui para a receita do desastre e sobre possíveis caminhos para solucionar o problema. Esse pode ser constatado em qualquer roda de amigos, pois, quando o assunto é organização financeira, uma fala muito comum é a de não saber para onde vai o dinheiro, não ser capaz de poupar e não ter controle nas compras de itens de consumo.
Quando uma empresa deseja melhorar seu desempenho, reajustar seus processos ou se reestruturar, elas investem em consultores, administradores ou gestores. Aplicar o conhecimento desses profissionais na vida econômica pessoal certamente resultará em um controle maior da renda e, assim, na redução dos problemas financeiros familiares. O trabalho de um consultor financeiro empresarial geralmente inicia com a avaliação da atual situação. Para isso, realiza um levantamento de possíveis passivos ou dívidas, identificando de onde surgiram, quais são seus juros, onde e porque foram adquiridas e quais são seus prazos. A partir disso, aponta o atual faturamento, ou, no âmbito familiar, a renda que aquela família possui. Com essas informações, já é possível estabelecer o melhor planejamento para a quitação de dívidas, analisando-se as possibilidades de portabilidade delas, de troca de uma dívida de alto juros e encargos por uma dívida de menor taxa ou se uma negociação de diluição maior de parcelas tornaria o fluxo de caixa daquela família algo possível de ser realizado.
A partir de um planejamento definido, um passo maior está relacionado ao corte de despesas e ao aumento da renda. É claro que na estrutura familiar não há o que falar em redução de pessoal, porém muitas despesas podem ser evitadas. Assim como uma empresa toma medidas de economia e investe em inteligência logística para redução de despesas fixas como energia elétrica, combustível e transporte, as famílias também devem estar dispostas a se reeducar para as mudanças necessárias. Entre essas, podemos destacar ações simples como apagar as luzes, definir horário para o uso de aparelhos de ar-condicionado, otimizar horários e caminhos para economia de combustível ou até mesmo analisar a possibilidade de utilização de transportes públicos ou alternativos. Além disso, deve ser estudada a possibilidade de aumento de renda quando há alguém na casa que possa começar a trabalhar ou se há itens de valor que podem ser vendidos.
Uma família endividada ou desorganizada financeiramente pode perder tempo útil e prazeroso devido a preocupações e estresse gerados por tais problemas. Portanto, assim como uma empresa que contrata um profissional está disposta a fazer sacrifícios e comprometer sua enraizada cultura para sobreviver ao mercado, as famílias também devem ser colaborativas entre si para as mudanças de paradigmas e até mesmo de nível social para se adequarem a sua própria realidade.
Como nem todas as famílias conseguem se reestruturar sozinhas, hoje há nas redes sociais profissionais que dão dicas de economia doméstica e planejamentos simples e eficientes, além de aplicativos que auxiliam no próprio controle de gastos pessoais. Diante das opções de se organizar por conta própria ou receber ajuda profissional, cabe às famílias enxergarem suas casas como seu principal negócio e, como em uma reunião de pessoal, definirem suas melhores estratégias e decisões.
STEPHEN HEBER DOS SANTOS
Gestão Empresarial (EaD) 5º Semestre