Nasci em 1981, pertenço à geração X. Testemunhei a explosão dos videogames, dos computadores, da internet e dos celulares. Lembro quando me conectei à internet pela primeira vez, em 1996, na casa de um amigo que tinha um computador com processador AMD 5x86 de 133Mhz, 16 MB de memória RAM e espaço de armazenamento de 800 MB. E sim, essa configuração era um luxo para a época!
Nos anos 1990, vivemos a era do computador pessoal ou simplesmente PC (personal computer, da sigla em inglês), considerado a porta de entrada para um mundo totalmente novo e inexplorado. Na maioria das vezes, compreender o funcionamento de um software, enviar um e-mail, configurar uma impressora ou instalar um game era uma tarefa complexa que exigia paciência, pensamento abstrato e muita concentração. Nesse contexto, a era do PC despertou naqueles profissionais habilidades essenciais para o mercado de trabalho que estava surgindo, além de criar uma cultura própria. Fazer um curso básico de informática e dominar os principais softwares do mercado era imprescindível para conseguir um bom emprego.
Entretanto, para a geração Z (nascidos entre 1995 e 2010), também chamados de nativos digitais, o PC parece não ser tão importante assim. Descendentes de um mundo hiperconectado, esses jovens cresceram cercados por tablets, smartphones e outros dispositivos portáteis. Ademais, foram os primeiros adeptos das mídias sociais e dos serviços de streaming, além de alçar os influenciadores digitais como referência. Esses jovens ajudaram a moldar produtos e serviços de uma economia cada vez mais globalizada, dinâmica e complexa.
Essa intimidade com tecnologias orientadas ao usuário, mais acessíveis financeiramente e mais fáceis de usar, fez com que a geração Z enxergasse o PC como algo caro, complexo, burocrático e até mesmo desnecessário. Como professor de tecnologia, já passei por situações em que os alunos ingressantes não sabiam executar tarefas básicas como criar pastas, copiar arquivos, conectar um pen drive, enviar um e-mail ou digitar e formatar textos. Já fui surpreendido com perguntas do tipo: “Professor, o que é CTRL + C, CTRL + V?”, “Qual tecla é SHIFT?”, “Como copio essa pasta para o meu pendrive?”. É um paradoxo, mas isso mostra que, ao mesmo tempo em que são proficientes em lidar com dispositivos móveis, apresentam uma ignorância absurda na frente de um PC.
Essa preferência por smartphones, além de limitar as habilidades profissionais, pode dificultar o acesso e a permanência no mercado de trabalho, pois a maioria das empresas exigem, e continuarão exigindo por muito tempo, habilidades básicas em PCs e softwares de produtividade. Ademais, há muitos setores que dependem de sistemas baseados nesses dispositivos, como desenvolvimento de software, contabilidade, design gráfico, produção multimídia, gestão de processos de negócio, administração, análise e ciência de dados, entre outros. É um absurdo, mas, sim, estamos discutindo inclusão digital para o jovem da classe média em pleno século XXI!
De fato, enquanto os smartphones são práticos e portáteis, nada supera o poder de um computador quando o assunto é produtividade, versatilidade e criatividade. Quando deixo o smartphone e fico na frente de uma ou duas telas grandes, além de ter um teclado completo e um mouse em minhas mãos, me sinto como o personagem Tony Stark (Homem de Ferro), vestindo uma armadura tecnológica e pronto para encarar qualquer desafio!
Prof. Me. Jorge Luís Gregório
Professor e Coordenador do Curso de Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas da Fatec Jales