Licença poética, de acordo com o dicionário on-line Houaiss (2025), é definida como a “liberdade de o escritor utilizar construções, prosódias, ortografias, sintaxes não conformes às regras, ao uso habitual, para atingir seus objetivos de expressão”. Assim, está presente na literatura, na música, nas propagandas e, por minha conta, já acrescentaria: nos nomes também!
Nossa reflexão aqui não vai focar nos inúmeros estabelecimentos que registram suas marcas com tanta criatividade que até a linguística “sofreria” um pouco para compreender; a gramática, então, ficaria espantada com os nomes de lojas como “Reppara”, “Bella”, “Donna” e assim vai. Ela irá versar sobre os nomes que carregam, em si, tanto a criatividade brasileira em um mundo globalizado, permeado por tantas influências, como o simples fato de termos autonomia, ancorados na bendita “licença poética dos nomes”.
Se antes do último acordo ortográfico homologado em 2016, as letras K, Y e W já circulavam entre nós, como se fossem nossas, a partir de então, são oficialmente brasileiras (ou abrasileiradas, aportuguesadas, digamos). Houve ainda mais letras dobradas, nomes enfeitados, mas com 90% deles acompanhados por sobrenomes bem brasileiros: Santos, Silva, Souza, Oliveira, Pereira...
Quem já conheceu um Jhony ou um Dione? Quem pensou no David, mas que se lê “Davi” ou “Deivid”? Quem já viu de passagem a Kemilli (ou Kemyli ou, ainda, Kemylly...)? E vamos mesclar ainda mais: vem a Karinne, o Willson (que também pode ser “Vilson”), a Luly...
Pensando no processo de alfabetização, no método trazido pela cartilha Caminho Suave, de Branca Alves de Lima (usada até a década de 80, início da de 90), acredito que não daria conta mesmo... Hoje, há casos em que, para evitar constrangimento, o professor, ao chegar à turma e fazer a chamada pela primeira vez, sabiamente, pede ao aluno que pronuncie seu nome – segurança para os dois sujeitos!
Sem fronteiras, muitos dos nossos nomes do dia a dia, quando não trazem neles as “novas” letras (agora nossas), investem a criatividade na pronúncia buscando em outros idiomas (menos na do brasileiro/português): e de novo vem o Davi (mas pronunciado “Deivi”); a Camilly, mas chamada por “Quémili/Kémili; o Jorge como “George”...
Sem dúvida, a língua, o idioma e, dentro deles, o nome, é algo muito acolhedor: você ser chamado pelo seu nome, escrito da forma mais criativa à mais simples (entendamos: sem as letras dobradas ou as inúmeras criatividades), é algo ímpar, daí muitos estudiosos da identidade humana afirmarem serem os sujeitos a construírem seus nomes. Não importa que se judie do cartorário, que passe o resto da vida explicando sua criatividade (o porquê de dois “Ls”, aquele “h” no meio): registre como quiser, inclusive, dê uma boa gargalhada quando seu nome for apenas José e alguém te disser: José, escrito do jeito simples mesmo?
Profa. Ma. Alessandra Manoel Porto – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Docente da Fatec Jales – Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
