Na iminência de realização da COP 30 no Brasil, não poderíamos deixar de pensar numa ajuda de extrema importância para atenuar nossa crítica situação climática: as árvores.
Poderíamos, mais uma vez, discorrer sobre como a cobertura arbórea atua diretamente em diversos aspectos, como na diminuição da temperatura, pela sombra e evapotranspiração; na absorção dos raios solares; na adsorção de poluentes e poeira; no sequestro de carbono, sendo um dos meios mais eficientes e baratos; no aumento da biodiversidade; na redução da intensidade de ruídos; na diminuição do escoamento de águas pluviais e manutenção dos corpos hídricos; na redução do consumo de energia elétrica; como um quebra-vento; na preservação de pavimentos e asfalto e na saúde física e mental da população. Mas, sejamos francos, isso todo mundo já sabe. São serviços ecossistêmicos que, por muito tempo, foram considerados imensuráveis.
Os benefícios das árvores vão além. Elas carregam significados pessoais, comunitários e culturais, têm valor educacional, além do que, quando contribuem para uma atraente paisagem urbana, comunicam a imagem de uma cidade próspera, podendo, indiretamente, promover o turismo e o desenvolvimento econômico.
Elas também impactam a economia. O valor econômico de uma árvore ainda é pouco considerado no Brasil, entretanto, a boa notícia é que os estudos científicos já avançam para essa área, fornecendo a mensuração que faltava. São estudos extremamente importantes, pois o que não é mensurado, de fato, não conta na tomada de decisão dos agentes públicos e nem de empreendedores.
Hoje, podemos quantificar. Metodologias internacionais, como o i-Tree, já são aplicadas no Brasil e apontam para o retorno financeiro da floresta urbana. Por exemplo, um estudo em Piracicaba/SP, de Flávio Henrique Mendes, publicado em 2021 pela Revista Labverde, estimou que as mais de 60 mil árvores urbanas do município poderiam retornar aproximadamente R$ 41 milhões em serviços ecossistêmicos anuais. Esse é o tipo de dado que transforma a árvore de “acessório” em ativo de infraestrutura.
É notório, também, o fortalecimento da cadeia produtiva que dá suporte ao trato da arborização urbana. Essa cadeia inclui a produção de mudas, serviços de paisagismo e jardinagem, manutenção das árvores, fabricação e distribuição de equipamentos e diversos produtos. Ainda, do ponto de vista econômico, é possível perceber que as pessoas gostam de estacionar seus carros em locais arborizados e próximos aos seus locais de compra, passando a permanecer mais tempo no comércio, o que impulsiona a economia local.
Além disso, a arborização urbana compõe um conjunto de ferramentas fundamentais para a adaptação das cidades às mudanças climáticas. Nesse ponto, há que se considerar que não basta plantar árvores pela cidade; é preciso que haja um planejamento e gerenciamento pelo poder público. Infelizmente, a estrutura legal, física e política para a efetiva arborização urbana ainda é insuficiente na maioria das cidades brasileiras.
Esse é o ponto-chave na questão da arborização urbana. Infelizmente, as árvores são vistas como acessórios e não como componentes vitais na infraestrutura urbana. O seu gerenciamento compete com outros serviços mais chamativos à população, como obras civis, tratamento de esgoto e instalação de equipamentos públicos. É uma competição injusta, mas que precisa ser vencida com dados e planejamento.
Além dos inúmeros entraves para o planejamento da arborização urbana, o fato é que todos querem melhorias nas condições de bem-estar para si e seu entorno, mas poucos fazem a lição de casa, que seria, no mínimo, o plantio e cuidado da árvore na sua calçada.
Todos querem sombra e água fresca, mas que isso não seja apenas metaforicamente.
Profa. Dra. Glaucia Alvarez Tonin
Docente e coordenadora do curso de Tecnologia em Gestão Empresarial EaD
Faculdade de Tecnologia “Professor José Camargo” – Fatec Jales
