Em um auditório lotado, iniciou-se uma das mais concorridas palestras do Fórum Internacional sobre educação, o Educação 360, promovido em 2015 pelos jornais O Globo e Extra. Na tribuna, via-se a figura de um senhor de cabelos brancos desalinhados, que falava a respeito de um dos temas mais instigantes e causadores de polêmica da atualidade: tecnologia aplicada à educação.
O palestrante era o sociólogo Zymunt Bauman, criador do conceito “modernidade líquida”, que trata da superficialidade das relações no mundo contemporâneo. Na ocasião, falou sobre a perda da capacidade de focar em determinados assuntos, sobre a falta de paciência para aprender e, principalmente, sobre o lugar onde estamos, de fato, mentalmente ao estarmos fisicamente em algum lugar, ou seja, estou aqui, mas, mentalmente, estou em uma rede social, postando uma selfie que é espalhada pelo mundo digital.
Segundo Bauman, os sites de buscas,outra ferramenta utilizada no meio educacional, trazem, na verdade, dados e não conhecimento. Uma busca simples em sites como Google ou Bing nos direciona a milhares de fontes sobre qualquer tema, mas quase todas, na verdade, trazem fragmentos de conhecimento misturados com opiniões diversas que não necessariamente correspondem a algo de fato “verdadeiro”. Essa pulverização da informação poderia levar a uma conclusão duvidosa do conhecimento. Assim nos perguntamos: aonde essa informação fragmentária nos levará?
Na opinião de Sandra Bozza, cientista social na área da educação, a tecnologia está nos levando a uma “ampliação da inteligência humana” por promover a disseminação da informação. Na Finlândia, desde 2015, a alfabetização não utiliza mais a escrita cursiva (com lápis e papel): substituída pelo tablet, institucionaliza-se a tecnologia como ferramenta principal de ensino.
Com a utilização das modernas tecnologias, certamente há o elemento facilitador do ensino, mas a criança está mentalmente na sala? Foi realizada uma reflexão durante a pesquisa? E mais, houve um foco durante o processo ao pesquisar apenas um assunto?
Para John Sweller, psicólogo educacional, existe uma “quantidade de elementos capaz de ser processada cognitivamente pela mente humana. Essa quantidade se traduz no equilíbrio entre o processamento cognitivo pretendido e a capacidade cognitiva disponível”.Maria Fernanda Borges, psicóloga especialista em terapia familiar e educação infantil,destaca ainda que “a criança, cujo desenvolvimento psicomotor é mal constituído, poderá apresentar problemas na escrita, na leitura, na direção gráfica, na distinção de letras (ex: b/d/p/q), na ordenação de sílabas, no pensamento abstrato (matemática), na análise gramatical, noção espacial, temporal, entre outras”. Será que isso lembra algo?
Dessa forma,a escrita manual faz parte do processo psicomotor, sendo esse prejudicado com a presença da tecnologia em idade que não haja a maturidade cerebral suficiente para tal (capacidade cognitiva disponível), ou seja, habilidades que envolvem o raciocínio, abstração, linguagem, memória, atenção, criatividade, entre outras funções podem ser prejudicadas por esse acúmulo de dados, perdendo-se assim o foco ou, simplesmente, não guardando informações.
Constatamos isso em nosso cotidiano, uma geração desfocada e com atenção em uma pluralidade de objetivos. A geração essencialmente tecnológica não está presente fisicamente em um mesmo lugar que seu pensamento. Uma cena comum desse tipo de comportamento está na sala de aula, onde se entende como “normal”a conversa em grupos de WhatsApp, tirar fotos da lousa para “ostentar” o fato de se estar estudando em determinada faculdade e postagem em redes sociais. Entretanto, aprender não é simplesmente estar presente em uma sala,é transformar informação em conhecimento, o que, infelizmente, não é possível por meio de fotos.
Gilberto Antonio Angeluci Jr
Discente do 5º Sem. Curso Superior em Tecnologia em Sistemas para Internet
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