Aposto que se você acessar a internet facilmente vai encontrar pessoas que afirmam serem os games causa de isolamento, violência e até assassinatos, motivo pelo qual eles não divertem, mas formam criminosos. Trata-se de um discurso muito comum em nossa sociedade, que leva a alguns questionamentos: há embasamento nesse tipo de afirmação? Esse discurso deve ser revisto, isto é, descontruído? Será que se crianças realizarem uma longa jogatina se tornarão pessoas ruins?
Pois é, por falta de informação e preconceito, a resposta à última questão pode ser "sim". Os jogos têm comumente uma representação negativa principalmente por pessoas nascidas no final da década de 60 ou antes, o que é compreensível, ao observamos o que foi construído pela mídia ao longo do tempo. No entanto, convém destacar que, em vez de ser um instrumento causador de problemas comportamentais, é um meio de diversão, que apresenta diversas vantagens. Assim como aponta uma análise divulgada pelo Pew Research Center, os games contribuem para o desenvolvimento social e até mesmo para o compromisso social.
Ainda que existam diferentes tipos de jogos, cada modelo soma diferentes vantagens para os jogadores. Há games focados em entretenimento, que combatem a ansiedade e depressão, doenças comuns na atualidade, assim como comprovado em um estudo realizado pela Universidade da Pensilvânia. Os games que contêm ação também trazem benefícios, pois, de acordo com um estudo realizado pela Universidade de Rochester em 2010, eles aumentam os reflexos e o tempo de reação perante alguma atividade. Outra pesquisa feita pela Universidade de Yale mostrou suas contribuições para o tratamento de psicopatas, que demonstraram respostas emocionais.
Já é do senso comum que tecnologias em geral prejudicam muito as relações interpessoais, e os games naturalmente são considerados os principais vilões, só que o curioso é que eles podem desenvolver a atenção das pessoas. Até mesmo médicos podem se beneficiar de pequenas partidas. Pode parecer estranho, mas, em Nova York, cirurgias do tipo laparotomia (procedimento no abdômen) foram realizadas com mais habilidade por profissionais que usufruíram de pequenas jogatinas, de acordo com pesquisa realizada pelo próprio Centro Médico Beth Israel, onde esses trabalhavam.
É possível também estreitar laços familiares por meio dos games, afinal, diversos jogos contam e até necessitam da participação de dois ou mais jogadores. Com isso, a afinidade entre pais e filhos pode se tornar maior, já que eles ganham e perdem partidas juntos, unindo-se também pelo amor aos games, conforme mencionado pela psicóloga Blenda de Oliveira, especializada em psicoterapia infantil e familiar.
Tais jogos não se resumem apenas a tiros, assassinatos e roubos e, mesmo dentro desses universos, eles consistem em histórias e escolhas que divertem o jogador, que aprende com os protagonistas ao ver seus próprios erros e suas consequências, estimulando, assim, a reflexão antes de se tomar atitudes precipitadas. Obviamente há vários tipos de jogos, que envolvem estratégia, drama, aventura, criação, educação, entre muitos outros, dos quais muitos inspiram o jogador a nunca desistir de seus sonhos, de confiar em si, até quando ninguém acreditar.
A polêmica mais recente em torno dos games no Brasil em 2019 leva a discussão uma lei proibindo todos os tipos de jogos com violência, principalmente após o ataque na escola de Suzano em fevereiro, cujos envolvidos tinham em casa anotações sobre jogos e uma lista de objetivos. Automaticamente os games foram acusados. No entanto, afirma a psicoterapeuta Olga Inês Tessari, que “não são os jogos que incentivam a violência; o meio (leia-se família) em que a criança vive é o responsável por sua violência, ou seja, o comportamento dela dependerá de como será educada”.
Claro, tudo deve ter seu controle e uma idade mínima, variando de conteúdo, mas os jogos não exercem uma má influência às pessoas, mas, antes, concedem-nas a experiência de viver muitas vidas em vez de uma só.
Bruno Inocêncio.
Aluno do 2º semestre de Sistemas para Internet.